Valerie gostava de estudar as Runas.
Gostava muito, até deixar de traduzir contos e documentos de poucas páginas para passar a traduzir capítulos imensos de informações pouco conhecidas da História da Magia.

Estava na quarta página do livro que tratava sobre diversos aspectos da magia durante o Império Romano, mas sua cabeça já se escorava sobre o cotovelo como se estivesse na vigésima. Tendo concluído a primeira página na biblioteca, julgara o Salão Comunal como um local mais tranquilo, considerando que o primeiro apresentava uma grande quantidade de pessoas a cochichar, folhear livros e arranhar pergaminhos; os sonserinos, no entanto, pareciam estar numa noite muito mais animada que de costume, o que poderia ser apenas uma percepção causada pela sua necessidade de concentração.

Esperara, então, a maioria fugir para os dormitórios para continuar a tradução e agora, atingindo as duas da manhã, tentava cumprir ao menos mais um pouco da tarefa antes de se recolher – por sorte, a manhã seguinte estaria livre. A garota respirou fundo, duas, três vezes, para então apanhar novamente a pena e correr os olhos pelo livro lotado de símbolos, pelo pergaminho e, por vezes, pelo seu dicionário de runas.

Conheço esse símbolo... mas não faz sentido, a tradução parece estranha nesse contexto, revisou, consultou todas as possíveis traduções, associou às figuras seguintes, até formar a frase que apresentava maior coesão. Ok, sei que isso é um numeral, buscou em sua mente cada um dos símbolos já utilizados em outros estudos da matéria, até constatar qual era a data referida. Duzentos e... ano duzentos e vinte e três. É mais que certeza que existem muitos arquivos sobre esse período em nossa língua. Será que tem uma cópia na biblioteca? Eu poderia simplesmente copiar e... a setimanista riu do próprio pensamento, estudando Runas Antigas a essa altura da vida escolar estava, claramente, provando estar disposta a dedicar-se. Só trapacearia em situações graves.

No Salão Comunal agora vazio, o som abafado do fundo do lago era motivo de agradecimento, a Vaughan sabia que, sem ele a se espalhar pelo ambiente, dificilmente conseguiria se manter concentrada; havia, ainda, o som da lareira, as chamas aquecendo a masmorra fria com estalidos suaves. Com mais algumas linhas traduzidas ao longo do pergaminho, já entendia a importância daquele capítulo que tratava sobre a Arte Bruxa durante o Império Romano – não optara por nenhuma das artes como disciplina complementar, mas agora se perguntava se os colegas que a escolheram tomavam conhecimento dos detalhes ali descritos; tudo era interessante e bonito.

Muito interessada nas informações que, conforme traduzia, tomava conhecimento, se deu por sete páginas concluídas quando voltou a sentir os olhos pesados. Passara das três da manhã. Satisfeita, adicionou um marcador de papel ao livro e o fechou, fitando os detalhes da capa marrom esteticamente envelhecida. Ainda tinha uma semana para concluir as vinte e oito páginas, mas acreditava que, se os professores pegassem leve durante essa primeira semana de aula, concluiria um tanto rápido. Por um instante lamentou ter reclamado no início da tarefa e, após guardar seu material, saiu em meio aos bocejos para o seu dormitório.